SÉRGIO SANTANA
(BRASIL – BAHIA)
SANTANA, Sérgio. as armas negras do amor. Capa: desenho de J. B. Wicar. Apresentação por Véra Motta. Salvador, Bahia: Fator Editora, 1989. 60 p. No. 10 037
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) Brito, Brasília- DF.
V
em cada cena
mesmo ato
alguma coisa dever ser gozada:
peças de desventura
querem se ajustar
não vá dessa maneira
meu humilhado coração
assim falece
correrei como louco ao leito
entre panos falarei:
estou desesperado
os anos passam
olho os filhos
animais fenecem
que penso meu deus que sou,
que sou deus?
se o poço é raso
saio
se não tem fundo
nem bem mais sei onde caio.
XIII
se me use
lambuze
de sangue não
com amor de irmão
são os amores que mais matam
não se matam tanto os irmãos?
do corpo me tire lascas
parte de tudo e de nada
que tira a ponta da faca.
só falta um pedaço
quase um nada
apenas esse que enlaça
insista me roubando a mente
minhas imagens e todas as camadas;
é hipersônica teleguiada
(ergue-se por cima das cabeças decepadas)
a pura voz que nunca me larga
botando as cabeças
onde não se sentia nada.
xix
antes de você
só vento
sofrimentos
amor asa-delta
ainda ouço os gritos de Milton
nascimento
olho a rua repentinamente
querendo você
escravo de pele negra
anti-escravidão histórica
do prazer
vítima provocada
venha gozar em mim
vivo entre ser deus
ou ser desgraça
cheio de tudo
resto de nada.
XXII
que prazer tem o homem
por que vira deus em mim?
não me engano
há muitos outros no fim
se não sei qual desses sou
perdão
é que sou assim
sou efeito de borda
essência de vazio
colado em sua pele
como cicatriz
por que no homem
e não em pedra
árvore ou talismã?
e sim em deus
em homem
em mim.
*
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Página publicada em outubro de 2024
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